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O economista, escritor e filósofo mineiro Eduardo Giannetti da Fonseca, 57, fará palestra no auditório da Fiern, nesta sexta-feira (19), no lançamento deste caderno especial. O convidado falará sobre as perspectivas da economia nacional e do mercado imobiliário. Programado para as 8h, o evento é uma promoção do Sinduscon-RN, Tribuna do Norte e Federação das Indústrias (Fiern).
Durante o período de elaboração da pauta, o caderno tentou entrevista com Giannetti, através de sua assessoria. Enviamos e-mail com as perguntas, mas alegando problemas de agenda e compromissos fora do país, a entrevista não foi possível.
No entanto, recorremos à palestra que ele fez no final de maio durante o 86º Encontro Nacional da Indústria da Construção Enic), realizado em Goiânia. Na palestra, ele faz uma análise da conjuntura econômica atual - período de crescimento acerelado e da desaceleração da economia, suas causas, implicações e projeções para o futuro.
“O Brasil combina hoje três fatos que não costumam caminhar juntos, e que realmente criam apreensão e sentimento muito forte de inquietação, e até ansiedade em relação ao futuro”, afirma o economista. Na palestra ele também fala sobre política de empregos, inflação, cenário externo, investimentos e carga tributária.
Expectativas
Acho que a expressão que melhor retrata, que melhor expressa o momento pelo qual nós estamos passando, é a expressão reversão de expectativas. Todos vocês lembram, há poucos anos, ainda em 2010-2011, o Brasil parecia ter encontrado um caminho de alta performance na sua economia. O Brasil vinha crescendo no período de 2003 a 2010 a uma taxa ligeiramente acima de 4% ao ano, um movimento de crescimento com forte inclusão social, o fenômeno da nova classe média, incorporação de 40 milhões de brasileiros ao mercado de consumo. O Brasil conseguiu atravessar relativamente bem a maior crise econômica da segunda metade do século XX, deflagrada em 2008. Nós conseguimos passar por essa crise a um custo relativamente baixo, uma grande surpresa, dado o histórico de hipersensibilidade brasileira nas pioras do cenário internacional. O Brasil era um caso de um país que quando o mundo espirrava ele pegava pneumonia, ia para a UTI. Houve uma grande crise internacional e o Brasil conseguiu, pela primeira vez em muito tempo, passar por ela a um custo relativamente baixo, em comparativo com o que se passou em outros países. Atravessamos bem a crise, mostramos um sistema imune capaz de absorver o impacto da crise sem maiores abalos. Em 2010 tivemos realmente um ano espetacular, um crescimento de 7,5%, economia com equilíbrio macroeconômico, cumprindo relativamente a meta de inflação.
Acho que a expressão que melhor retrata, que melhor expressa o momento pelo qual nós estamos passando, é a expressão reversão de expectativas. Todos vocês lembram, há poucos anos, ainda em 2010-2011, o Brasil parecia ter encontrado um caminho de alta performance na sua economia. O Brasil vinha crescendo no período de 2003 a 2010 a uma taxa ligeiramente acima de 4% ao ano, um movimento de crescimento com forte inclusão social, o fenômeno da nova classe média, incorporação de 40 milhões de brasileiros ao mercado de consumo. O Brasil conseguiu atravessar relativamente bem a maior crise econômica da segunda metade do século XX, deflagrada em 2008. Nós conseguimos passar por essa crise a um custo relativamente baixo, uma grande surpresa, dado o histórico de hipersensibilidade brasileira nas pioras do cenário internacional. O Brasil era um caso de um país que quando o mundo espirrava ele pegava pneumonia, ia para a UTI. Houve uma grande crise internacional e o Brasil conseguiu, pela primeira vez em muito tempo, passar por ela a um custo relativamente baixo, em comparativo com o que se passou em outros países. Atravessamos bem a crise, mostramos um sistema imune capaz de absorver o impacto da crise sem maiores abalos. Em 2010 tivemos realmente um ano espetacular, um crescimento de 7,5%, economia com equilíbrio macroeconômico, cumprindo relativamente a meta de inflação.
Retrato do momento
O Brasil combina hoje três fatos que não costumam caminhar juntos, e que realmente criam uma apreensão e um sentimento muito forte de inquietação, e até ansiedade em relação ao futuro. Quais são esses três fatos que chamam a atenção hoje no Brasil, e que como eu disse, não costumam se combinar, não costumam simultaneamente coincidir no tempo? O primeiro fato: baixo crescimento crônico. Nós estamos entrando no quarto ano de crescimento muito baixo no Brasil. O governo Dilma Rousseff vai terminar o seu mandato agora, em 2014, com a menor taxa de crescimento da era republicana no Brasil depois dos governos de Floriano Peixoto e Collor de Melo. O nosso crescimento que vinha um pouco acima de 4% ao ano, em média, passou para um patamar cronicamente baixo de 2% ao ano, em média, sendo que esse ano caminhamos para um crescimento ainda inferior. Um baixo crescimento que já se torna crônico.
O Brasil combina hoje três fatos que não costumam caminhar juntos, e que realmente criam uma apreensão e um sentimento muito forte de inquietação, e até ansiedade em relação ao futuro. Quais são esses três fatos que chamam a atenção hoje no Brasil, e que como eu disse, não costumam se combinar, não costumam simultaneamente coincidir no tempo? O primeiro fato: baixo crescimento crônico. Nós estamos entrando no quarto ano de crescimento muito baixo no Brasil. O governo Dilma Rousseff vai terminar o seu mandato agora, em 2014, com a menor taxa de crescimento da era republicana no Brasil depois dos governos de Floriano Peixoto e Collor de Melo. O nosso crescimento que vinha um pouco acima de 4% ao ano, em média, passou para um patamar cronicamente baixo de 2% ao ano, em média, sendo que esse ano caminhamos para um crescimento ainda inferior. Um baixo crescimento que já se torna crônico.
Inflação
A nossa inflação está teimosamente na vizinhança do limite superior do intervalo definido por um sistema de metas muito generoso, em que o centro da meta é elevado, é o mais elevado de todos os países que tem sistema de metas, 4,5% é o centro da nossa meta. O intervalo de tolerância é muito grande, também um dos maiores entre os países que adotam a sistemática, e nós estamos teimosamente na vizinhança do teto da meta, com uma inflação na casa dos 6,5% há vários anos. Mas é um pouco pior do que isso, porque aqui nós tivemos um retrocesso de artificialismo de política econômica que, confesso, não esperava voltar a ver na minha vida profissional. O governo passou a recorrer a controle de preços para controlar a inflação no curto prazo.
A nossa inflação está teimosamente na vizinhança do limite superior do intervalo definido por um sistema de metas muito generoso, em que o centro da meta é elevado, é o mais elevado de todos os países que tem sistema de metas, 4,5% é o centro da nossa meta. O intervalo de tolerância é muito grande, também um dos maiores entre os países que adotam a sistemática, e nós estamos teimosamente na vizinhança do teto da meta, com uma inflação na casa dos 6,5% há vários anos. Mas é um pouco pior do que isso, porque aqui nós tivemos um retrocesso de artificialismo de política econômica que, confesso, não esperava voltar a ver na minha vida profissional. O governo passou a recorrer a controle de preços para controlar a inflação no curto prazo.
Existem tarifas cruciais da economia brasileira, preços muito relevantes da economia brasileira como derivados de petróleo, energia elétrica, transporte coletivo, porque o governo passou a assegurar, tendo em vista obter resultados artificialmente melhores, no tocante à meta de inflação, ao cumprimento, pelo menos, do intervalo. Se nós descontarmos o artificialismo desse represamento de preços, que terá que ser corrigido, inevitavelmente, é uma questão de tempo. Se nós descontarmos isso, nós já estamos com uma inflação, hoje, no Brasil, acima de 7%, talvez chegando a 7,5% no acumulado de 12 meses. É um quadro de inflação preocupante, e que entre outros efeitos, está criando muitas dificuldades nas renegociações salariais. Não é à toa que tantas greves veem acontecendo no Brasil, porque com uma inflação alta, e em parte represada, as demandas por reajuste salarial começam a ficar muito mais agressivas, e muito mais confusas, porque ninguém sabe mais ao certo qual é a realidade dos preços no Brasil. O problema da inflação no Brasil, portanto, voltou a fica preocupante. É um fato.
Contas externas
O Brasil que vinha numa posição muito confortável de superávits em conta corrente durante vários anos, passou a ter grandes déficits em conta corrente nos últimos anos. Concretamente o que significa isso? Significa que o Brasil está gastando muito mais com o mundo, do que o mundo está gastando com o Brasil. E na prática, significa que nós precisamos encontrar todos os anos 82 bilhões de dólares para cobrir as nossas contas externas. Não é um número trivial.
O Brasil que vinha numa posição muito confortável de superávits em conta corrente durante vários anos, passou a ter grandes déficits em conta corrente nos últimos anos. Concretamente o que significa isso? Significa que o Brasil está gastando muito mais com o mundo, do que o mundo está gastando com o Brasil. E na prática, significa que nós precisamos encontrar todos os anos 82 bilhões de dólares para cobrir as nossas contas externas. Não é um número trivial.
Preocupação
Essas três coisas: baixo crescimento crônico, inflação elevada e déficit em conta corrente não costumam caminhar juntas. E é muito preocupante que no Brasil elas estejam hoje, coincidentemente ocorrendo no tempo. Se você tem um crescimento tão baixo como é o caso hoje no Brasil, você não deveria estar com problema de inflação. Você deveria estar com uma inflação no centro da meta, ou eventualmente até um pouco abaixo da meta. Se você tem um déficit em conta corrente elevado, isso significa que o mundo está te financiando, o mundo está transferindo poupança externa para cá, de modo a que, se tudo estivesse correndo bem, nós poderíamos aumentar o nosso nível de investimento e crescer a uma taxa mais elevada.
Essas três coisas: baixo crescimento crônico, inflação elevada e déficit em conta corrente não costumam caminhar juntas. E é muito preocupante que no Brasil elas estejam hoje, coincidentemente ocorrendo no tempo. Se você tem um crescimento tão baixo como é o caso hoje no Brasil, você não deveria estar com problema de inflação. Você deveria estar com uma inflação no centro da meta, ou eventualmente até um pouco abaixo da meta. Se você tem um déficit em conta corrente elevado, isso significa que o mundo está te financiando, o mundo está transferindo poupança externa para cá, de modo a que, se tudo estivesse correndo bem, nós poderíamos aumentar o nosso nível de investimento e crescer a uma taxa mais elevada.
Um déficit em conta corrente, a contrapartida dele é uma possibilidade de você aumentar o nível de gasto agregado, especialmente investimento, e dessa maneira alcançar um patamar mais pujante de expansão da atividade econômica. Nós estamos com um déficit em conta corrente de 3,6% do PIB, cerca de 80 bilhões de dólares, o nível de investimento não mudou, permanece rigorosamente onde estava, e o país cresce muito pouco. É um quadro preocupante.
Essa reversão de expectativas está calcada em fatos objetivos, não é apenas uma questão de boa ou má vontade com governantes ou com ações. É um fato constatável, um fato empírico, é uma atualidade com a qual nós precisamos lidar. E esse é o retrato da situação em que nós nos encontramos.
Desemprego
O único ponto que traz alento nesse retrato, sobre o qual eu não falei ainda, é que o nível de emprego no Brasil vem se mantendo bom, satisfatório. O nível de renda parou de crescer, mas não caiu, e isso vem mantendo e sustentando o nível de demanda que permite a economia, pelo menos, não ir para uma recessão, manter um crescimento cronicamente baixo. As razões pelas quais o desemprego está muito baixo nos levaria aqui para um outro caminho, seria uma outra palestra, mas eu vou rapidamente mencionar duas delas: a primeira é que o crescimento do período de 2003 a 2010 foi extremamente calcado na expansão do setor serviços, que é um setor de trabalho intensivo, que demanda muita mão de obra. Então isso permitiu empregar muita gente, o setor serviços é muito mais agregador de ocupação de emprego do que outros setores da economia.
Desemprego
O único ponto que traz alento nesse retrato, sobre o qual eu não falei ainda, é que o nível de emprego no Brasil vem se mantendo bom, satisfatório. O nível de renda parou de crescer, mas não caiu, e isso vem mantendo e sustentando o nível de demanda que permite a economia, pelo menos, não ir para uma recessão, manter um crescimento cronicamente baixo. As razões pelas quais o desemprego está muito baixo nos levaria aqui para um outro caminho, seria uma outra palestra, mas eu vou rapidamente mencionar duas delas: a primeira é que o crescimento do período de 2003 a 2010 foi extremamente calcado na expansão do setor serviços, que é um setor de trabalho intensivo, que demanda muita mão de obra. Então isso permitiu empregar muita gente, o setor serviços é muito mais agregador de ocupação de emprego do que outros setores da economia.
O outro fato relevante é o demográfico. O crescimento da população economicamente ativa reflete o crescimento demográfico de cerca de 15, 20 anos atrás. A população está entrando no mercado de trabalho. Como caiu muito a taxa de fecundidade no Brasil a partir dos anos 70, nós já estamos verificando agora o fato de que o crescimento da população economicamente ativa é muito mais baixo do que era há alguns anos.
Trajetória
Como chegamos até aqui? Ela passa por três componentes, sobre os quais eu vou discorrer, aprofundando um pouco cada um deles. São três coisas fundamentais, que permitem entender porque é que mudou para pior a economia brasileira. O primeiro fato é o cenário internacional. Não dá para descartar o fato de que o mundo que vinha trabalhando a nosso favor deixou de fazê-lo. Eu vou elaborar um pouquinho para entender onde é que essa mudança do cenário global nos pega. O segundo é um fato estrutural, não é coisa desse governo, não é coisa do anterior, e nem do anterior do anterior, é um quadro fiscal que vem se agravando no Brasil desde a Constituição de 1988, e que se nós tivermos seriedade e quisermos realmente desbloquear o canal do crescimento econômico no Brasil, em algum momento nós vamos ter que enfrentar. O terceiro componente da minha resposta nos remete a um fator doméstico também, mas que não é de natureza estrutural, este sim é de natureza conjuntural. E trata-se da deterioração, da piora da qualidade da política econômica no Brasil, que começa no segundo mandato do Lula, e se aprofunda bastante no mandato do atual governo Dilma Rousseff.
Como chegamos até aqui? Ela passa por três componentes, sobre os quais eu vou discorrer, aprofundando um pouco cada um deles. São três coisas fundamentais, que permitem entender porque é que mudou para pior a economia brasileira. O primeiro fato é o cenário internacional. Não dá para descartar o fato de que o mundo que vinha trabalhando a nosso favor deixou de fazê-lo. Eu vou elaborar um pouquinho para entender onde é que essa mudança do cenário global nos pega. O segundo é um fato estrutural, não é coisa desse governo, não é coisa do anterior, e nem do anterior do anterior, é um quadro fiscal que vem se agravando no Brasil desde a Constituição de 1988, e que se nós tivermos seriedade e quisermos realmente desbloquear o canal do crescimento econômico no Brasil, em algum momento nós vamos ter que enfrentar. O terceiro componente da minha resposta nos remete a um fator doméstico também, mas que não é de natureza estrutural, este sim é de natureza conjuntural. E trata-se da deterioração, da piora da qualidade da política econômica no Brasil, que começa no segundo mandato do Lula, e se aprofunda bastante no mandato do atual governo Dilma Rousseff.
Investimentos
Quais são os fatores domésticos que hoje impedem o Brasil de dar sequência àquele movimento ascendente? São duas coisas. A primeira delas é estrutural. Eu queria voltar para 1988. Parece incrível, em 1988 a carga tributária bruta no Brasil era uma carga tributária normal de país de renda média. O total de impostos arrecadados pelo Estado Brasileiro, União, Estados e Municípios, somava, em 1988, 24% do PIB. Era uma carga tributária de tamanho normal para um país de renda média. Os países de renda média como o Brasil tem cargas tributárias quase que sem exceção, de 20 a 25% do PIB.
Quais são os fatores domésticos que hoje impedem o Brasil de dar sequência àquele movimento ascendente? São duas coisas. A primeira delas é estrutural. Eu queria voltar para 1988. Parece incrível, em 1988 a carga tributária bruta no Brasil era uma carga tributária normal de país de renda média. O total de impostos arrecadados pelo Estado Brasileiro, União, Estados e Municípios, somava, em 1988, 24% do PIB. Era uma carga tributária de tamanho normal para um país de renda média. Os países de renda média como o Brasil tem cargas tributárias quase que sem exceção, de 20 a 25% do PIB.
Pois bem, hoje, 2014, a carga tributária brasileira, que veio subindo sistematicamente de lá para cá, alcança 36,5% do PIB. Não para aí, porque o Estado Brasileiro além de drenar 36,5% do PIB, gasta 3,5% do PIB a mais do que ele arrecada. Em 1988, com uma carga tributária de 24% do PIB, o estado brasileiro investia em formação bruta de capital fixo, basicamente infraestrutura, 3% do PIB. A carga era bem menor, e o investimento era 3% do PIB. Hoje, tudo incluído, inclusive o PAC, que eu chamo ‘Plano de Abuso da Credulidade’, tudo incluído, na média dos últimos quatro anos, é 2,4% do Produto Interno Bruto.
(Tribuna do Norte)
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